Não são as Imagens

…que fazem o filme, mas a alma das imagens.

10 filmes essenciais da carreira de Buster Keaton

by Daniel Lukan

Dia 1º de fevereiro. Há exatamente 50 anos falecia Buster Keaton; ator que, com sua cara impassível, se tornou um dos maiores cineastas da comédia muda americana. Um dos marcos iniciais da história do cinema. Creditado como ator de 149 filmes e diretor de 39, sem dúvidas, o personagem mais grandioso de Keaton seja ele próprio. Muito se poderia analisar e falar (e muito ainda será analisado e falado) sobre a obra desse gênio da comédia, mas, a fim de propor uma singela homenagem nessa data marcante da história do cinema mundial, fizemos essa lista com as obras pontualmente essenciais na carreira do homem que nunca ri.

  1. Limelight (Luzes da Ribalta) – 1952

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Esse filme escrito e dirigido por Chaplin – o principal concorrente de Keaton no auge do cinema mudo – embora conste apenas uma simples e curta participação de Keaton, é o único registro dos dois principais gênios da comédia juntos. Além disso, foi particularmente fundamental no restabelecimento de certa estabilidade na vida pessoal de Keaton. Seu estrelato não havia sobrevivido ao surgimento do cinema falado, e, desde então, Buster vivia completamente entregue ao álcool e se mantendo com papeis pequenos em comédias baratas. Ironicamente, foi esse filme de Chaplin sobre o processo de decadência de um cômico velho que reanimou a melancólica vida de Buster Keaton.

  1. Cops (O Enrascado) – 1922

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Esse filme de apenas 18 minutos é uma das obras mais kafkianas de Keaton. Um dos filmes mais icônicos de Buster Keaton e é classificado como culturalmente, esteticamente e historicamente importantes pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.

  1. The Playhouse – 1921

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Outro curta de gags. Aqui Keaton retoma o L’homme Orchestre de Geoges Méliès e cria uma sequência de sonho da rotina do vaudeville na qual ele interpreta o maestro, os dançarinos e todo o público.

  1. Our hospitality (Nossa hospitalidade) – 1923

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Nesse longa-metragem Buster Keaton cria humor a partir de situações extremamente simples. A história que mostra semelhanças com os problemas causados pelo amor entre Romeu e Julieta, tornou-se modelo para vários filmes lançados recentemente – Balagalittu Olage Baa (2002); Maryada Ramanna (2010) e outros. O filme apresenta uma das melhores viagens de trem do cinema e também é curioso por ser o único a unir a família Keaton num filme: Keaton, seu filho e sua mulher (grávida de mais um filho).

  1. Steamboat Bill, Jr. (Marinheiro de encomenda) – 1928

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Considerado uma das obras-primas de Keaton, Steamboat Bill, Jr. também conta a história do amor de Keaton por uma mocinha filha da família inimiga, no caso o adversário de seu pai no controle do transporte de passageiros em River Junction. Nesse filme a genialidade de Keaton se mostra sobretudo na mise-en-scène; a sequência do tornado é sem dúvidas uma das cenas mais brilhantes da obra de Keaton.

  1. Seven chances (Sete oportunidades) – 1925

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Seven chances talvez não chegue ao status que o filme anterior tenha em relação à aceitação da crítica especializada, contudo, essa comédia romântica é um dos filmes mais empolgantes de Keaton, com várias cenas de perseguição que reúnem, num único filme, quase tudo que há de melhor na obra do ator. A cena da qual foi retirada a imagem acima é uma das mais lembradas da carreira de Keaton.

  1. One Week (Uma semana) – 1920

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Na nossa quarta posição, voltamos a um dos simplórios curtas do início da década de 20. Aqui o visual surrealista da casa dos personagens que acabam de se casar vira o exuberante cenário das trapalhadas de Keaton. Por mais simples que seja, o filme nos apresenta personagens completamente cativantes. Além disso, Keaton tampando a câmera e, logicamente, a visão de espectador para que sua mulher pudesse pegar o sabonete sem ser vista nua é um claro sinal do controle de linguagem do ator/diretor e mostra como a criação dele estava décadas a frente do que ainda era produzido naquele período.

  1. Sherlock Jr. (Bancando o águia) – 1924

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Agora chegamos às principais obras do auge da carreira de Keaton. Sherlock Jr. é um filme de tirar o fôlego com seu ritmo completamente arrebatador. Mais um grande exemplo de cenas de perseguição extremamente cômicas e exagero no humor físico sem igual. É certamente uma das obras-primas não só de Keaton, mas da década de 20. A cena em que o personagem de Keaton interage com as ações da tela do cinema é também mais uma daquelas em que o cineasta nos espanta ao apresentar técnicas que parecem absurdas ao cinema ainda bastante primitivo daquele período.

  1. The Cameraman (O homem das novidades) – 1928

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Aqui mais outra série de cenas antológicas, obra que resume o que é o cinema de Buster Keaton. Ademais, O homem das novidades é daqueles filmes obrigatórios às listas de qualquer um que tenha interesse pela comédia, pelo cinema mudo e pelo cinema como um todo. Uma obra extremamente original e que talvez seja uma das mais humanas na filmografia do homem da cara de pedra.

  1. The General (A general) – 1926

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Baseado em fatos acontecidos durante a Guerra civil americana, chegamos à magnum opus da filmografia de Keaton; um dos filmes mais importantes da história do cinema. Se Our hospitality apresenta uma das melhores viagens da história do cinema, não há como negar que essa seja a melhor. A qualidade da trama, dos cenários e da intercalação entre tensão e comicidade é dum nível que somente o próprio Keaton poderia superar-se em perfeição. Nessa obra Keaton prova uma coisa àqueles que tentam coloca-lo abaixo de Chaplin: se as histórias de Chaplin são mais humanas e dramáticas (e, de fato, o são), não há dúvidas de que, na história da comédia muda, Keaton tenha criado as tramas mais épicas.

8 excelentes e ‘esquecidos’ filmes da filmografia de Alfred Hitchcock

by Daniel Lukan

Hitchcock possui algumas das principais obras da história do cinema mundial; Psicose, Vertigo, Os Pássaros e Janela Indiscreta são alguns exemplos. No entanto, podemos encontrar dentro de sua vasta filmografia exemplos que beiram a genialidade dos maiores título e que, por algum motivo, acabaram sendo desprezados ou, quando muito, recebendo o papel de coadjuvantes na grande história do mestre do suspense. Eis a lista:

  1. Young and Innocent (Jovem e Inocente) – 1937

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Baseado no romance de Josephine Tey, A Shilling for Candles, aborda um dos temas centrais na obra de Hitchcock: o inocente perseguido. Um dos últimos filmes ingleses do diretor é lembrado pela sequência no Grand Hotel na qual a identidade do verdadeiro assassino é revelada.

  1. Blackmail (Chantagem e Confissão) – 1929

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Outro filme da fase inglesa do diretor. Possui a importância histórica de ser o primeiro filmes sonoro de Hitchcock e também o primeiro filme sonoro do Reino Unido. É impressionante pela forte atmosfera psicológica criada e também por talvez ser uma das obras onde o diretor mais expõe sua forte influência expressionista, em Blackmail Hitchcock desenvolve muitas das técnicas de suspense que perpassam a maioria dos seus grandes filmes.

  1. Sabotage (O marido era o culpado) – 1936

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Filme bastante controverso. A narrativa como um todo não é das melhores dentre os filmes de Hitchcock. Contudo, a capacidade de manipulação das emoções por parte diretor fica evidente nas diversas cenas marcantes que podem ser destacadas do filme. Os maiores exemplos são: a tensão e o contraste entre rituais cotidianos e o impulso assassino, na cena da morte de Mr. Verloc; e a cena na qual acontece um atentado num ônibus no centro de Londres.

  1. Stage Fright (Pavor nos Bastidores) – 1950

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O primeiro filme americano de nossa lista também foi filmado na Inglaterra. Stage Fright é às vezes considerado um dos filmes mais fracos na carreira do diretor inglês. Abandonando um pouco o suspense e beirando muito o melodrama, Hitchcock cria uma história de personagens na qual um “quadrilátero” amoroso vira peça central de um enigmático mistério. Além disso, vale destacar a sempre brilhante presença de Marlene Dietrich.

  1. Saboteur (Sabotador) – 1942

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Mais uma história de acusação errônea. Barry Kane é acusado de sabotar um incêndio que mata seu amigo. Tentando provar sua inocência ele atravessa o país todo e se envolve em várias situações cercadas de inimigos e traidores. A trama muito boa acaba nos prendendo ao longo de todo o filme e a cena final na Estátua da Liberdade no faz lembrar o que viria a ser a sublime cena no Monte Rushmore em North by Northwest.

  1. Suspicion (Suspeita) – 1941

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Primeiro filme de Cary Grant com o diretor, Suspicion foi, inclusive, indicado ao Oscar de Melhor Filme e Joan Fontaine venceu o de Melhor Atriz. A história possui uma tensão psicológica parecida com a que iria repercutir em Gaslight (1944), de George Cukor; contudo, os desfechos das histórias são bem distintos. Os moldes narrativos de Hollywood modificam o romance Before the fact (Francis Iles) do qual o filme é originado, mas ainda assim é impressionante o modo como Hitchcock consegue manter o suspense tão forte e prolongado por grande parte do filme. Bastante lembrado pela cena em que Cary Grante sobe as escadas carregando um copo de leite, o filme merecia muito mais atenção pela forma como consegue ritmar a tensão, o suspense e o clima de suspicion.

  1. Lifeboat (Um barco e nove destinos) – 1944

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Mais uma história de personagens. Lifeboat – tal como Festim Diabólico – transforma um cenário minúsculo em algo grandioso e até mesmo sublime. Apesar de três indicações dentre as principais categorias do Oscar, o filme é esquecido num contexto geral, embora até seja lembrado por um público mais específico. Aqui Hitchcock consegue explorar detalhes do caráter e da moral humana numa situação de completo desespero e desesperança. Uma aula de direção que expõe como é possível retirar de um contexto mínimo (9 pessoas confinadas num barco) uma história extremamente densa e envolvente.

  1. I Confess (A tortura do silêncio) – 1953

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No filme, um padre ouve a confissão de um fiel que acabou de cometer um assassinato, um tempo depois o padre vira o principal suspeito do crime; logo, o filme vira um dilema moral entre a responsabilidade como padre de manter sigilo e a necessidade de livrar-se da falsa acusação. Produzido na década mais importante da carreira do diretor, I Confess talvez perca um pouco o brilho perto de verdadeiras obras-primas do cinema (Pacto Sinistro, Janela IndiscretaUm corpo que cai, etc.); contudo, o excelente clima noir e a forte tensão dramática do dilema moral do padre são excelentes aperitivos dessa que talvez seja a maior das obras “menores” de Hitchcock.